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35) A princesa dos povos encantados



(narrador)

No dia seguinte, logo que a guarda de gnomos assumiu o posto na vigilia de Maise, Tana encaminhou-se para Etera. Chegando ao palácio, foi direto para os aposentos particulares da Rainha que, após os cumprimentos iniciais, dispensou todos que estavam no ambiente e perguntou:

- Tana, aconteceu algo para que esteja aqui tão cedo?

- Minha Rainha, ontem à noite Maise confirmou o que já imaginávamos: ela é mesmo filha de Luna.

- Eu sabia Tana, meu coração não poderia estar tão enganado. Filha de minha filha. Minha neta!

- Sim, Majestade. Seu coração estava certo também em não perder as esperanças, ainda que não tenha sido sua filha a retornar.

- Pobre Luna.

- Ela foi feliz com o homem que amava e teve uma filha adorável. Vossa Majestade poderá fazer por Maise o que não fez por Luna.

- É o que desejo: que seja feliz aqui em Etera, o lugar ao qual pertence por direito. Ela deve saber que tem uma família e de toda sua estória. O reino está quase pronto para recebê-la, ainda que ninguém além de nós duas saiba o motivo dos preparativos. Está confirmado? Ela virá?

- Sim, Rainha. Confirmou ontem à noite. Está ansiosa por conhecer nossa espécie e cheia de curiosidade. Foi um custo não responder suas perguntas, mas este deve ser seu privilégio.

- Obrigada. Devo fazer um comunicado aos encantados, para que a recebam como se deve, mas primeiro tenho que contar a Elros.

- Espero que aceite bem a notícia. Certamente será um choque.

- Tenho fé que ele entenderá, querida. Por favor, retorne e envie a guarda que estiver por lá. Ficará com Maise até virem, não é mesmo?

- Sim, Majestade. Fique tranqüila. Enviarei os guardas e estarei com ela o tempo todo.

- Você é uma boa amiga, Tana. Obrigada.

Agradecendo e fazendo uma reverência, Tana retirou-se.

O Príncipe Elros atendeu em poucos instantes ao chamado da Rainha. Era um elfo majestoso, trajado ricamente com botas altas, calça justa, bata presa por cinto de couro e uma capa verde aos ombros. Os elfos eram os seres elementais mais parecidos com os humanos, estatura pouco inferior, mas infinitamente mais belos com seus cabelos brancos, olhos azuis ou verdes, orelhas pontudas e corpos perfeitos.

Elros, que com seu porte imponente e a riqueza dos trajes era ainda mais belo do que todos, fez uma reverência e aguardou.

- Elros, querido amigo. Acabo de receber uma notícia esperada há mais de 20 anos e desejo partilhar com você antes dos demais.

- Agradeço a deferência, Majestade. Do que se trata?

- Há algumas semanas chegou a Portal do Sol uma jovem chamada Maise, hospedando-se na cabana de Artur, o artista. Tana investigou sua origem e acaba de confirmar que se trata da filha de Luna, minha filha e sua ex-noiva. Ela disse a Tana que seus pais faleceram em um acidente há alguns meses.

- Meus pêsames, Rainha.

- Obrigada. Infelizmente não pude dar um abraço de despedida em minha filha ou dizer-lhe o quanto a amava e de como arrependo-me pelas atitudes intempestivas do passado. Foi pela minha intolerância que fugiu com aquele artista. Ansiava por seu perdão e agora sei que não terei. Só não estou mais triste porque ganhei uma neta. Mal vejo a hora de poder abraçá-la. Ela virá hoje à tarde a Etera e desejo que seja recebida como a princesa que é. Antes de falar aos encantados, quis que soubesse.

- Fico feliz por Vossa Majestade e por toda Etera que agora tem uma herdeira de sangue real.

- Elros, depois que você foi abandonado praticamente no altar, procurei recompensar-lhe de todas as formas que pude. Sempre teve minha confiança e é o segundo em comando no reino de Etera. Até mais do que isto. Nós dois sabemos que você é quem governa de fato. Sem um herdeiro real foi natural que todos, inclusive eu, passássemos a ver você como o próximo governante. Agora com a chegada de Maise a situação muda. Apesar de tudo que fez pelo reino, o trono é um direito de minha neta.

- Não há com o que preocupar-se, Majestade. Meu interesse é o bem de nosso povo. Não tenho ambição pelo poder e estou satisfeito com minha posição, assim como ficarei se puder auxiliar a princesa.

- Certamente, meu caro. Sua posição está assegurada e só tenho a agradecer pela generosidade. Obrigada.

- Hoje é um dia memorável para Etera. Confesso que agora também estou ansioso por ver a princesa. Será tão bela quanto era a mãe?

- Ah, Elros, pela descrição de Tana é ainda mais bonita. Espero que sua noiva não fique enciumada. Por falar nisto, onde ela está?

- Eileen estava comigo quando fui chamado e deve estar aguardando na sala do trono.

Os dois continuaram conversando amigavelmente enquanto saiam do aposento e caminhavam pelos corredores.

Nos aposentos reais, Eileen que estivera disfarçada ouvindo toda a conversa, retomou sua forma normal.

- Hoje! Ela estará aqui hoje e como princesa real! Não se eu puder impedir! E vou impedir, custe o que custar. Ela não chegará a Etera viva. A rainha terá que contentar-se com o cadáver da netinha amada.


Texto registrado no Literar.

Imagem daqui.

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